terça-feira, 27 de setembro de 2011

Grande autor Sid Sackson terá 30 jogos relançados

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A “modernidade” no tabuleiro, dizem, começou com Catan em 1995. Mas um título muito anterior já possuía as tais qualidades modernas: rápido de jogar, com regras simples, sem eliminação e com muito mais estratégia do que sorte, Acquire, de Sid Sackson, faz sucesso desde 1962 e desde então nunca deixou de ser publicado.

Apesar de inúmeros lançamentos cheios de hype todo ano, ele resiste no Top-100 do BGG, onde é um dos mais antigos, superado somente pelo milenar Go e pelo brinquedo de peteleco Crokinole. Chegou a ser publicado no Brasil pela Grow, com o nome de Cartel.

Sid Sackson não teve mais sucessos do mesmo porte. Outros de seus jogos que ainda vinham sendo relançados são Can’t Stop, I’m the Boss e Sleuth. O primeiro é muito bacana de jogar contra o computador, mas, como um jogo de “push your luck”, é bastante demorado para a mesa. Os outros dois não consegui experimentar ainda.

Mas me chamam a atenção algumas de suas criações mais obscuras – e elas estão para vir à luz novamente, por obra da Fred Distribution.

Bazaar, de 1967, já está em pre-order (Gryphon Games). Dá para jogá-lo online no BSW. Li as regras. É um jogo familiar e simples, mas que parece bem criativo e interessante.

Metropolis, de 1984, inspirou os jogos Big City e Chinatown, lançados 15 anos depois, e me desperta mais curiosidade do que ambos. Ainda não vi uma data para este.

Choice é um jogo excelente, na linha do Yathzee, mas muito mais interessante. É melhor de jogar solo, diga-se. Nem precisa comprar: basta ter 5 dados e imprimir o folheto. Está sendo relançado com o nome de Extra! pela Schmidt Spiele, onde vem com uma inteligente caixa que, uma vez aberta, se transforma numa torre de dados.

Venture, Samarkand e Executive Decision são outros jogos de Sid Sackson que eu gostaria de ver em ação – e estão para ser relançados nessa empreitada.

Alguns fatos:

  • Sid Sackson faleceu em 2002, aos 82 anos. Seus minuciosos diários estão no Strong Museum of Play, na cidade de Rochester (EUA).
  • Segundo a Wikipedia, ele possuía mais de 18 mil jogos, tendo sido o maior colecionador do mundo.
  • Com o jogo Focus, Sackson ganhou o Spiel des Jahres de 1981. Esse jogo chegou a ser lançado no Brasil, pela Estrela, com o nome de Domínio.
  • No Acquire da Avalon Hill, um dos hotéis do jogo se chama Sackson.
  • Grande apreciador de jogos simples, dos que podem ser disputados apenas com baralhos, fichas, papel, lápis ou outros apetrechos triviais, Sackson publicou o livro A Gamut of Games, com regras para dezenas desses jogos. Alguns criados pelo próprio Sackson.

Veja abaixo uma matéria sobre Sid Sackson na revista Super Interessante Especial – Jogos (1990). Em seguida, uma entrevista concedida por ele (na mesma edição).

 

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ENTREVISTA COM SID SACKSON (1990)

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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sobre Dominant Species

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Dominant Species — criado por Chad Jenses, autor de wargames como Combat Commander: Europe — é um jogo de worker placement e controle de área que tem feito muito sucesso entre os fãs de jogos “pesados”. Já alcançou a destacadíssima posição de 20.o lugar no BGG.

Resisti muito tempo a jogá-lo, com certos receios. Experimentei na JogaSampa de setembro na Ludus. O jogo é muito bom, mas meus receios se confirmaram.

1) Duração do jogo. Não tenho problemas com um jogo só por ele demorar muito. Este dura umas 3 horas. Civilization dura 4 ou mais, e eu não recuso nenhuma partida e ainda seria capaz de jogar outra vez em seguida. O problema é que um jogo deve ter “algo mais” para ter essa duração e entrar em minha coleção, porque as oportunidades para jogos demorados são limitadas. Dominant Species, mesmo sendo bem bolado e bem desenvolvido, não me traz nenhum algo mais.

2) Downtime. A partida teve 3 horas exatas, e foi possível se ausentar da mesa por uns 10 minutos de vez em quando. Em Civilization há downtime, mas existe uma diferença importante. Civilization é um jogo estratégico em que, apesar da enorme complexidade da situação do jogo, há mais estabilidade e mudanças mais graduais. É útil você aproveitar o tempo dos outros jogadores para pensar nas ações que vai fazer. Mais do que útil: é essencial. Dominant Species é um jogo tático em que as mudanças no cenário são abruptas e profundas. Não adianta você pensar durante o turno dos adversários, muita coisa vai mudar e você precisará recomeçar o raciocínio. Assim, a improdutividade do downtime torna-o ainda mais longo.

3) Manipulação. DS compartilha com Shogun uma crítica: são ambos jogos um tanto “trabalhosos”. Existe uma computação bem chatinha, e mesmo os que gostam do jogo aposto que vão adorar quando sair uma versão eletrônica que faça todos os cálculos. Para cada hexágono, é necessário comparar as dominâncias sempre que acontece alguma mudança (e, como disse, acontecem muitas mudanças o tempo todo). Os cones marcam com clareza quem está ganhando ali, mas não a pontuação dos envolvidos, e também não brotam sozinhos, os jogadores precisam fazer esse controle. Eu considero bastante incômodo.

4) Novidade. Não, um jogo não precisa ter mecânicas “originais” para ser bom. Mas isso pode ajudar muito para a sensação de querer conhecer e jogar de novo um lançamento. Em DS, a parte de worker placement funciona igual ao Caylus, e o controle de área é igual ao de El Grande. Há muitas semelhanças em detalhes com esses dois jogos. Uma coisa um pouquinho diferente é o controle de área “duplo”: dominância x cubinhos. Mas são apenas superposições, não há de fato uma dinâmica especial. A novidade em King of Siam, por exemplo, é que se trata de um controle de área em que os cubinhos não são “seus”. Você tem que tentar fazer uma cor “ganhar” e ao mesmo tempo tentar ser aquele que mais capturou daquela cor — uma dinâmica interessantíssima em que um objetivo prejudica o outro. No worker placement, um jogo que realmente conseguiu inovar e criar uma nova sensação é o Luna: os trabalhadores já estão alocados e são gastos com o uso, mas se reativam no final de cada turno. Seu objetivo é utilizar os recursos disponíveis para realocá-los e reaproveitá-los na hora certa. Essas alterações numa mecânica já existente dão uma nova sensação ao jogador.

Enfim: Dominant Species é um bom jogo para quem gosta de caos tático, mas, pelos motivos explicados acima, não é para mim.