sábado, 17 de julho de 2010

Dust e Duck Dealer

vitores

Neste sábado,  uma mesa com dois Paulos e dois Vítors. Afora a confusão, os dois jogos que levamos à mesa correram incrivelmente bem.

(Na foto, um Vítor olha o outro realizando seu complexo turno de Duck Dealer.)

DUST

Foi nossa primeira partida completa de Dust. Levou 5 horas, mas quem se importa? Meu xará da mesa pediu para jogarmos outra em seguida!

Porque a experiência é legal. Com as regras italianas, mais semelhantes à Epic da edição americana, a estratégia vale muito mais do que a sorte no jogo, apesar das cartas e dos dados. O Vítor Bixcoito ganhou merecidamente com 40 pontos, pois teve ideias muito boas no começo e conseguiu conquistar uma capital assim que elas foram liberadas para ataque. Eu fiquei em segundo, com 35, usando também uma estratégia interessante, mas cometi erros que me impediram de ganhar.

O que me atrai num jogo é esse aprendizado: tive ideias, tentei implementá-las, percebi meus equívocos, e agora quero jogar novamente para tentar corrigi-los.

Embora não tenha jogado nenhuma vez com as regras Premium, que fazem a partida durar metade do tempo, posso inferir que seja um jogo muito mais dependente da sorte, pois força a pancadaria entre forças de nível semelhante pra ver o que sai nos dados — não dá tempo de esperar, de lidar com o jogo de cintura “perde aqui – ganha ali”.

DUCK DEALER

Estava um pouco assustado com relatos no BGG de que o jogo seria um exercício logístico absolutamente insano, sendo necessário “programar”, na cabeça, de 20 a 40 ações antes de iniciar o turno propriamente dito.

Isso talvez se aproxime da verdade conforme os jogadores se tornem mais experientes. Os 4 novatos de hoje se envolveram bastante e se divertiram numa partida de pouco mais de 2 horas.

A temática é estapafúrdia, mas ficou engraçada: os recursos básicos sujeitos à exploração natural — em lugar das tradicionais madeira, pedra, etc. — são patinhos de borracha, cabines telefônicas, ovinhos coloridos, tinta azul e painéis solares. Certa fábrica usa um patinho e uma cabine para produzir um aparelho de som. E assim por diante.

Quanto à mecânica, achei que tudo se encaixa muito bem: os cubinhos que você põe para diminuir as distâncias entre os planetas, o modo como desenvolve sua espaçonave, a opção de privilégios nas minas e fábricas, o esquema de coletar energia por várias rodadas até de fato “jogar”, etc.

Precisarei jogar mais para opinar melhor, mas cito aqui uma ótima frase sobre o jogo, de um cara do BGG: “Se o jogo tem downtime? Não sei: estávamos todos ocupados demais pensando, para percebermos se teve.”

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Brass no Bexiga

brass_camila_eu_marcelo (1)

Como palmeirense, descendente de italianos e morador do Bexiga, recebi os amici Camila e Marcelo Antunes para uma partida de Brass.

Com sua duração um tanto padrão de 3 horas, 0 minuto e 0 segundo, atravessei minha 3.a partida do jogo.

Talvez eu precise de mais umas duas partidas para decidir se o jogo “é para mim”, mas sem dúvida é um sistema refinado.

Tenho a impressão de que desistirei de jogá-lo, assim como fiz — após 6 partidas — com o Imperial, outro excelente jogo .

Alguns sabem que gosto de ser bastante seletivo nos jogos. Para mim, diversão é aprender bem um jogo, ter um desempenho cada vez melhor, jogar muitas vezes os mesmos. Gosto de variedade de estilos, mas não ligo tanto para novidades.

Espero que Brass preencha o posto de minha escolha para jogo econômico e tático pesado. Mas ele ainda não me “pegou”.

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Na foto acima: com muita sorte nas cartas, Marcelo acabou vencendo a partida.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

As regras de DUST

dustlg

Faz tempo que ouço falar sobre as divergências que existem entre os diferentes conjuntos de regras para jogar DUST. Interessado pelo jogo, pensei: qual deles escolher?

Alguns boatos dificultaram a compreensão do assunto. Chegou-se a dizer que a Fantasy Flight Games teria deturpado o jogo original italiano, criando regras piores.

Não foi isso que aconteceu. Segundo Spartaco Albertarelli, um dos designers, Dust foi enviado para a FFG, que propôs alterações. Como algumas das alterações agradaram os designers, e outras não, foi feito o acordo de lançar o jogo, nos EUA, com duas regras.

O livreto de regras chamado Epic Version traz o jogo conforme o desejo inicial dos designers italianos. O livreto de regras chamado Premium Version traz a versão da FFG.

Acho elogiável a postura da FFG. Pelo que sei, em geral as editoras de jogos é que acabam tendo a última palavra sobre as regras, e usam as que preferem.

Acontece que, com tempo para continuar testando seu jogo, os designers fizeram novas alterações. É até possível que tenham sido em parte motivadas pelas primeiras dúvidas e queixas dos usuários americanos.

Exato: apesar de a criação do jogo ser italiana, a versão americana ficou pronta antes. Com isso, não faz sentido dizer que a FFG deturpou um original. Na verdade, a Epic Version é exatamente o que os designers desejavam no início.

Está claro que a criação da versão Premium objetiva, em primeiro lugar, diminuir o tempo de jogo. Segundo a FFG, o tempo de jogo de cada versão seria:

Premium: 2h a 3h.
Epic: 4h a 6h.

Para criar essa versão de jogo que dure metade do tempo, a FFG interferiu em dois aspectos que desagradaram em especial os criadores: o setup e a pontuação.

Acelerou-se o jogo pelo setup fazendo com que os jogadores ocupassem um maior número de áreas já no início.

Considero mais sério o modo como aceleraram o jogo na pontuação, pois mudaram completamente a proporção dos pontos.


Epic / Italiana Premium
Capital 2 1
Maioria 2 1
Power source 0,33* 1

*Obs: na verdade, 1 ponto a cada 3 power sources.

Como se pode ver, houve uma inversão na proporção. A Premium dá menos pontos para algo que é difícil de pontuar: existem somente 3 maiorias a serem verificadas, e dificilmente um jogador terá mais de 1 Capital (e só poderá conquistar outras depois da metade do jogo). No entanto, ela triplica os pontos de algo abundante: são 16 power sources no tabuleiro. O resultado é que isso aumenta a pancadaria generalizada para dominar esses pontos a qualquer custo e o quanto antes. A Epic, por sua vez, é mais estratégica. Natural que demore mais.

É uma questão de gosto. No fórum do BGG, vi fãs do jogo dizerem que nem consideram a possibilidade de jogar a Epic, enquanto outros desprezam a Premium.

Para mim, não faz diferença nenhuma o tempo que o jogo demora. Basta que ele seja divertido durante todo o tempo. Mas pode ser difícil conseguir levar à mesa um jogo com a promessa de ficar 5 horas nele.

Ainda assim, tentarei investir na Epic. Ou, melhor ainda, nas regras italianas.

Como afirmou o Spartaco Albertarelli, as regras italianas são uma pequena variação, com aperfeiçoamentos, da versão Epic.

Felizmente, consegui na Ilha do Tabuleiro um arquivo com as regras italianas. E atenção: para jogar de acordo com essas regras é preciso, em parte, ignorar o próprio FAQ oficial da FFG. Nele, é “esclarecido” que é possível fazer um ataque com míssil balístico numa área marítima. Mas as regras italianas dizem: “Il giocatore deve scegliere un’area di terra occupata da unità nemiche” (grifo mio!).

No Brasil, alguém divulgou uma variante afirmando que se tratava de uma regra italiana. Por essa variante, em vez de cada jogador, em seu turno, fazer todas as ações (produção, movimento e combate), primeiro todos fariam a produção e só então haveria uma rodada em que cada um faria movimento e combate.

Em primeiro lugar, isso não está nas regras italianas. Em todas as regras de Dust, a ordem é a mesma: cada jogador, em seu turno, faz produção, movimento e combate.

Em segundo lugar, essa variante agride muito o design. Já existe um balanceamento entre ser o primeiro e o último, e está nas mãos dos jogadores a preparação de suas jogadas. Com as cartas, ele pode planejar as próximas rodadas, tentando ser um dos primeiros ou um dos últimos, e também pode deixar suas forças prontas para receber eventuais ataques. Isso faz parte da estratégia, e tal variante é típica de quem quer nivelar o jogo por baixo. Ela prejudica quem se planeja e facilita para quem joga de qualquer jeito.

Para terminar, descrevo abaixo as mudanças entre as regras do Epic para as italianas, pelo que consegui encontrar.

Além disso, criei e disponibilizei no BGG uma descrição das cartas, em português e em inglês, e uma ajuda geral do jogo, em português. Ambas com as regras Epic/Italianas.

Clique aqui para baixar a descrição das cartas em português.
Clique aqui para baixar a ajuda geral em português. NOVO: versão 2.

Alterações nas regras: Epic x Italianas

Movimento estratégico de bombardeiros. Nas regras italianas, é permitido pegar os bombardeiros de várias áreas diferentes, para então levá-los a uma única área.

Capitais neutras. Nas regras americanas, capitais neutras podem ser capturadas como capitais, e os jogadores recebem pontuação por elas. Nas regras italianas, as capitais neutras são como áreas quaisquer e não valem pontos.

Retiradas. Nas regras americanas, só é possível fazer uma retirada (retreat) após lançar os dados pelo menos uma vez. Nas italianas, antes de lançar os dados o defensor pode retirar uma unidade.

Retirada anfíbia. Omissas, as regras americanas permitiriam concluir que não é permitido fazer uma retirada usando movimento anfíbio. As regras italianas são claras ao dizer que esse tipo de retirada é permitido, desde que se escolha o caminho mais curto possível.

Local de retirada. As regras americanas permitem, com algumas condições, que o defensor se retire para uma área vazia. Isso não é permitido pelas regras italianas.

Ataque de submarinos. Nas regras italianas, os submarinos podem se mover para atacar. Este é o único caso em que optei pela regra americana (Epic), pelo seguinte motivo: as regras italianas não deixam claro como deve ser feita a retirada dos submarinos, o que poderia causar bastante confusão durante o jogo. Aprovado na versão 2: submarinos não podem se retirar.

Ataque especial de submarinos. As regras americanas não permitem atacar capitais dessa forma. As regras italianas explicitamente permitem.

Ataque especial de míssil balístico. Nas regras americanas, você lança sempre 3 mísseis nesse ataque, em qualquer área. Nas regras italianas, você lance 1 míssil por centro de produção que você controle, e pode atingir somente áreas terrestres.

Arma secreta. Nas regras italianas, não é permitido usá-la contra uma capital nem contra exércitos neutros.

Sigrid e Radar Alienígena. Nas regras italianas, estas cartas podem ser usadas apenas uma vez na rodada.

Desempate. A ordem para desempate é diferente. Nas americanas é: quantidade de capitais / quantidade de áreas / dividem a vitória. Nas italianas é: mais pontos na última rodada / mais maiorias / mais áreas terrestres / mais power sources / mais capitais / realizam nova rodada.

Editado em 20 de julho de 2010.

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