quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

As multi-maquininhas de pontos

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Uma tendência dos últimos anos são os jogos de uma categoria que podemos chamar de multi-maquininhas de pontos. The Castles of Burgundy, Trajan, Hawaii e diversos outros se enquadram nessa categoria.

São todos muito bons jogos, bem elaborados e bem desenvolvidos, que estão hoje atraindo e divertindo milhares de pessoas. Mas tenho uma crítica a eles, que está na ausência de um significado estratégico claro para as ações.

Creio que isso pode fazer com que se tornem cansativos depois de um tempo (alguns anos). Claro que é cedo para dizer: o primeiro jogo de que me recordo com essa tendência é o Hansa Teutonica, de 2009. Sobre ele, há alguns números interessantes. Segundo o sistema voluntário de registro de partidas por usuários do BGG:

379 pessoas o jogaram em Janeiro de 2011
211 pessoas o jogaram em Janeiro de 2012
151 pessoas o jogaram em Janeiro de 2013

Compare com os números de Caylus, um clássico moderno lançado em 2005, quatro anos antes de Hansa Teutonica.

257 pessoas o jogaram em Janeiro de 2011
276 pessoas o jogaram em Janeiro de 2012
242 pessoas o jogaram em Janeiro de 2013

O interesse por Caylus chegou a subir de um ano para outro, e a diferença entre o primeiro e o último ano é de apenas 5%, o que me parece uma oscilação bastante normal, enquanto em Hansa Teutonica a queda de interesse foi de 60%!

Com isso, tenho a impressão de que essa categoria irá saturar em quantidade de títulos lançados e começará a perder o interesse com o tempo.

Minha experiência com Luna, que também praticamente se encaixa nessa categoria, pode ser outro indício. Empolgado, cheguei a realizar 14 partidas dele ao longo de um ano, e então fiquei completamente enjoado. Há jogos que joguei algumas vezes e não tenho mais interesse, porém nunca havia “enjoado” de um jogo. Pela internet, já joguei quase 5 mil partidas de Xadrez, quase 1 mil de Dominion; à mesa, já joguei 52 partidas de Civilization, que demora em média 4 horas, ao longo de um período de 2 anos, e não me vejo enjoando nem parando de jogar nenhum desses títulos.

Qual pode ser o “problema” (se houver) desse tipo de jogo?

Em princípio, eles são claramente atraentes. Muito táticos, exigem máxima eficiência, pois é comum que o jogador tenha à sua disposição uma grande quantidade de ações e todas são, de algum modo, boas. Às vezes ele precisa interpretar que, se fizer agora uma ação que lhe dará 3 pontos, no turno seguinte poderá fazer uma ação de 5 pontos, enquanto escolher uma de 5 pontos agora talvez lhe dê no máximo uma oportunidade para 2 pontos em seguida. Desenrolando essa perspectiva para um jogo inteiro em que fará 15, 20, 30 ações, temos um árduo quebra-cabeça matemático, que deve ser montado da melhor forma possível enquanto se tenta atrapalhar os adversários na mesma tarefa.

O resultado disso é um jogo tático que permanece tático em todos os níveis de análise. Assim, temos somente o cálculo, sem nenhum apoio de planejamento “analógico”. Vamos desenvolver esse raciocínio.

Xadrez e Puerto Rico são dois jogos também totalmente táticos. O primeiro é um clássico de 500 anos de existência, cada vez mais praticado e estudado: milhares de livros já foram escritos sobre ele. O segundo é um clássico moderno, com seus 11 anos, muito diferente do Xadrez, mas com constante interesse de muitas pessoas (636 usuários do BGG o jogaram em janeiro de 2011, 624 em janeiro de 2013…).

O fato é que ambos podem ser debatidos em termos estratégicos claros. Estimulam no ser humano sua intuição mais concreta, seu sentido de planejamento e execução.

Nas multi-maquininhas, é comum que a situação do jogador mude completamente entre um de seus turnos e o seguinte. Em Puerto Rico, um plano definido no início geralmente permanece, ele recompensa a coerência e o timing adequado das ações.

Um jogo com sentido estratégico pode ser analisado em português, com raros números envolvidos; no caso da multi-maquininha, sua linguagem é a aritmética.

Por esses motivos é que, conforme disse anteriormente, acredito que esses jogos devem perder força com o tempo. Certo ou não nessa especulação, o fato é que já de imediato tais jogos não me empolgam. Assim que percebo estar diante de um deles, passo para a frente e retorno aos meus preferidos.

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